O Brasil nunca primou pela maravilha em termos de ambiente para negócios, mas poucas vezes a política enregelou empreendedores como às vésperas da ditadura militar. Mas, como no poker, sempre há quem aposte contra e pague para ver. A fundação da gaúcha Fada Plásticos, em janeiro de 1964, reflete esse espírito. Ao longo desses 50 anos, a empresa fez nome em sopro e se manteve de pé em meio às pajelanças heterodoxas dominantes desde então na economia. Apenas entre 1980 e 1992, por exemplo, o país mudou de moeda legal por três vezes e, após ter lutado para conseguir o grau de investimento das agências de rating, o Brasil entrou com apreensão em 2014 diante da possibilidade de ter a nota rebaixada. Enilton Nunes, atual controlador da Fada, atribui em essência o couro duro da empresa aos ajustes para não acumular mofo e ao passo acertado com o ritmo ditado pela política econômica.
A tática para a Fada sobreviver, interpreta Nunes, sempre foi andar no ritmo do Brasil, mesmo se isso implicasse redução da produção. Nos últimos cinco anos, a empresa chegou a diminuir, em sua sede atual em Glorinha (RS), seus volumes de fornecimento em 50% e o atual quadro de funcionários corresponde a um terço do efetivo no passado. “Eliminamos praticamente todos os passivos trabalhistas e uma folha de pagamento pesada”, justifica o empresário. Com essa repaginada estrutural, a Fada ainda conseguiu preservar o faturamento, informa o diretor. Depois de anos a reboque do baixo crescimento econômico do país, a transformadora hoje atua em compasso de espera. “Operamos das 6h às 18h para atender aos pedidos em carteira e já não fazemos estoques”, assinala Nunes.
A baixa qualificação da mão de obra no setor, ele atribui, forçou-o a investir em equipamentos auxiliares. Ao final das contas, os periféricos ampliaram a produtividade da Fada. “Buscamos automatizar o sistema de alimentação. Adquirimos durante a feira K 2013 dois sistemas experimentais para controle de peso peça a peça”, sublinha Nunes.
Fruto de esforços desse naipe, a Fada agora processa 200 t/mês de polietileno de alta densidade (PEAD) e tem no mostruário cerca de 200 modelos de embalagens rígidas, em grande parte patenteados. Montar filial em outra região também está no radar, deixa no ar Nunes. Além disso, ele sustenta, a transformadora é das únicas do mundo a deter a tecnologia Blocktainer, para recipientes de desempenho similar ao de estruturas de cinco camadas, contendo entre elas álcool etileno vinílico (EVOH). Em vez de recorrer a agentes de barreira, a tecnologia Blocktainer se vale de patenteado composto de PEAD de alto peso molecular. Ele forma uma barreira laminar lamelar. “Adaptamos uma sopradora para produzir bombonas de até 30 litros e três equipamentos para frascos agro de 1 e 2 litros”, esclarece o empresário.